Nascido a 1 de Janeiro de 1812 na Travessa de
Trás-dos- Oleiros (actual travessa de Camões), Domingos Florentino da Silva foi
o sétimo de nove filhos de Manuel Domingues e de Ana Maria da Silva. O seu pai,
natural de Vila Nova de Gaia, veio novo para Guimarães onde casou com Ana Maria
da Silva, natural de Mesão Frio e filha de lavradores proprietários. Manuel
Domingues foi mestre-pedreiro, taberneiro e proprietário de alguma monta em
Guimarães. Decidido a fazer dos seus filhos mais do que ele próprio tinha sido,
enviou os dois filhos mais velhos para o Brasil, casou bem a sua única filha
que chegou à idade adulta e fez dos seus dois filhos mais novos (Manuel e
Domingos Florentino) frades.
Domingos Florentino da Silva nunca terá
tido vocação religiosa de nenhuma espécie. Simpatizante do liberalismo foi,
desde muito cedo, uma enorme fonte de problemas para os seus pais. Ainda a
Guerra Civil que opunha liberais e absolutistas não tinha terminado e já Frei
Domingos recebia ordem de expulsão de Guimarães (e reclusão no convento onde
professava em Coimbra) por pregar os ideais liberais. Parecia mais talhado para
a política do que para o sacerdócio...
Finda a guerra regressou a Guimarães
onde foi causador de enormes distúrbios. Em 1836 aderiu à Revolução de Setembro
e foi seu acérrimo defensor. Foi pela defesa incondicional dos valores
setembristas que se tornou conhecido em Guimarães. De acordo com um cronista da
época Frei Domingos “fez-se notável em todas
as eleições e com especiosidade na última eleição de Deputados (a 26 de Agosto
de 1838) e na última eleição da Câmara e administrador do concelho, chegando a
reunir muitos votos para administrador indo na lista dos 5 para o Governo. Não
andava de noite, senão carregado de armas e poucas eram as desordens que haviam
na vila em que não entrasse. Finalmente era um homem que não tinha qualidade
alguma boa”. Nas referidas eleições chegou mesmo a sublevar o Regimentode Infantaria 18, que se encontrava na Praça da Oliveira na altura da contagem dos votos. Frei Domingos entrou na praça com uma clavina numa mão e uma espada na outra e gritou: “leva arriba! Morram os traidores” e logo os soldados do 18 começaram a espancar os cidadãos e, de seguida, os boletins de voto foram queimados.
Para além destes
episódios relacionados com a política, Frei Domingos foi também um homem de
farras e de amores...Fez parte da Associação Escolástica Vimaranense
(Nicolinas) e tomou-se de amores por D. Maria Júlia Vaz Vieira de Melo e Nápoles
(filha do Fidalgo do Toural), que "raptou" da casa de seus pais e de quem teve uma filha, D. Maria Antónia Vaz
Vieira.
Na noite de 18 para
19 de Julho de 1839, estando perto das Taipas, possivelmente na quinta de seus
pais, Frei Domingos meteu-se numa festa onde terá agredido diversas pessoas. Um
ferreiro, armado de uma clavina, deu-lhe um tiro no peito, matando-o de
imediato. Ao que parece apareceu “morto em ceroulas, e assim esteve todo o
dia até ao seguinte em que a justiça foi levantá-lo, estando tão descomposto
que causava horror a quem o via. Estava em ceroulas porque assim tinha saído de
casa, quando tinha vindo bater nos da festa e tirar-lhes umas moças que eles
levavam. O sítio aonde ele apareceu morto foi na Deveza, junto as casas do José
Leite e por esse sítio foi aonde principiou a desordem, e aonde ele levou o
tiro”. A sua morte
causou grande satisfação na Vila de Guimarães onde o povo sabia que “um
tal verdugo não podia deixar de ter mais cedo, ou mais tarde um tal fim, e por
se verem livres de um tão grande opressor”.
Um jornal do Porto
defendeu Frei Domingos, afirmando que a sua morte fora um assassinato político
e que grandes interesses estavam em jogo. Mas, para a história de Guimarães, Domingos
Florentino da Silva será sempre “O Facínora”.