Como é sabido Frei Diogo de Murça foi Reitor do efémero Colégio (universidade) da Costa em Guimarães. Durante o curto espaço de tempo em que funcionou (1537-1550), o Colégio da Costa terá tido algum impacto em Guimarães e na vida dos vimaranenses. Ali eram ministrados os cursos de Teologia e Artes e, também, a disciplina de Gramática. Em 1542 estudavam na Costa mais de cem alunos, sendo alguns deles vimaranenses. Destes destaca-se Gonçalo Dias de Carvalho, Cónego da Colegiada de Nossa Senhora de Oliveira, que obteve licença para ir “todos os dias à Costa aprender, vindo servir a igreja nos dias em que na Costa se não ler”. Dias de Carvalho viria a ser professor na Costa e, alguns anos mais tarde, faria o doutoramento na Universidade de Coimbra. Também D. Duarte, filho bastardo de D. João III, ali estudou, bem como D. António (Prior do Crato), filho do Infante D. Luís.
Entre 1537 e 1543 o Colégio da Costa foi financiado pelas rendas do Mosteiro de Refojos de Basto. Em 1543, Frei Digo de Murça seria nomeado Reitor da Universidade de Coimbra e a Costa perderia progressivamente importância. De Guimarães para Coimbra sairiam não só os alunos e professores da Costa, mas também as rendas de Refojos de Basto, agora destinadas ao sustento da Universidade de Coimbra. O processo foi gradual e lento e só em 1550 a Universidade da Costa fecharia as suas portas.
Frei Diogo de Murça estudou em Salamanca, Paris e Lovaina onde se doutorou em 1533. Foi muito provavelmente durante a sua passagem pelo estrangeiro que se familiarizou com o culto a S. Nicolau pelos estudantes universitários. Nas universidades de Salamanca e Paris o culto a S. Nicolau estava inclusive previsto nos seus estatutos desde o século XVI. Em Portugal, pelo menos desde 1506, é sabido que a festa a S. Nicolau fazia parte dos ritos universitários. Nos Colégios de Artes os dias solenes de Festa eram Santa Escolástica e São Nicolau. Os estatutos do Colégio da Costa (que abarcavam os cursos de Artes, Teologia e a disciplina de Gramática) são omissos relativamente a este ponto, limitando-se apenas a salvaguardar para os seus “colegiais, leitores, escolares (...) e outras pessoas” o direito a gozarem de “todos e quaisquer privilégios, liberdades, graças, concessões e indultos que há [da?] mesma ordem [nos?] mosteiros casas e colégios dela nos Reinos de Portugal, Castela ou Aragão (...)”.
Apesar dos estatutos da Costa serem omissos no que diz respeito ao culto a S. Nicolau, na vida de Frei Diogo de Murça encontramos um dado interessante para a análise do culto a S. Nicolau pelos estudantes em Portugal. Diz-nos uma “Relação Secreta” (relativa a guerras na ordem dos monges beneditinos) datada de 1588 que, anos antes, numa visitação de 1564, tinha sido “dissolvido” um “bando” de monges que se apelidavam de “nicolaístas”. Este “bando”, cujos partidários estavam sediados em Refojos e em Coimbra, devia o seu nome ao facto de Frei Diogo de Murça ter dado o “hábito a alguns estudantes pobres que tinham por costume pedir esmola por amor de São Nicolau” (isto acontecia em Coimbra). O “bando” rival dos “nicolaístas” era o dos “martinetes” (assim denominado por ter origem no Mosteiro de S. Martinho de Tibães).
Estes “bandos”, extintos em 1564, viriam a ressurgir alguns anos mais tarde (nos finais do século XVI. Apesar de terem ressurgido nos finais do século XVI, cerca de 20 anos após a morte de Frei Diogo de Murça, mantiveram o nome de “nicolaístas”, andando de “capa caída na congregação”. Uma das suas figuras principais neste período foi Frei João Pinto, Abade de Refojos de Basto, sobrinho de Frei Diogo de Murça.
Frei Diogo de Murça foi demitido do cargo de Reitor da Universidade de Coimbra em 1555. Regressou ao Mosterio de Refojos de Basto onde fez profundas reformas. Ali viria a morrer em 1561.
Em Coimbra e em Refojos a memória de Frei Digo de Murça perdurou durante muitos anos. Em Guimarães, o Colégio da Costa terá deixado boas memórias pois, no século XVII, seria pedida a sua reabertura.
Frei Diogo de Murça foi um homem notável no seu tempo. Os frades e alunos dos Colégios que dirigiu não o esqueceram e, ao que tudo indica, não esqueceram também o culto a S. Nicolau que difundiu junto da comunidade estudantil.
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