Com o fim da Maria da Fonte e da Patuleia, em 1847, o território vimaranense não mais conheceu a guerra no sentido clássico do termo (se é que pode classificar-se ou identificar-se a guerra com um determinado padrão num período relativamente longo). É verdade que, alguns anos após a Maria da Fonte, em 1862, os vimaranenses tremeriam com os tumultos da “Maria Bernarda”, em que o povo se manifestou novamente contra o pesado regime fiscal. Já nos finais do século XIX, novos tumultos surgiriam, desta vez nos mercados vimaranenses, contestando o aumento de preços dos géneros alimentares. Contudo, a guerra propriamente dita não foi esquecida em Guimarães. Ainda nos finais do século XIX, alguns militares vimaranenses ou pertencentes ao Regimento de Infantaria 20 aqui aquartelado, participaram nas duras campanhas de Angola e Moçambique. Com o século XX e com a República, os arredores de Guimarães conheceriam uma pequena escaramuça entre militantes monárquicos e republicanos, travada em Julho de 1911, havendo apenas alguns feridos. De Guimarães, pela mesma altura, sairiam alguns militantes monárquicos para engrossar as fileiras de Paiva Couceiro, comandante da resistência monárquica, que, por esta época, actuou nas zonas fronteiriças do norte do país. Em 1917, Portugal enviava os seus homens para a Flandres, onde morreram aos milhares. Há notícia de terem participado bastantes vimaranenses na Primeira Guerra Mundial. Alguns teriam a sorte de voltar à sua terra natal ilesos, outros regressariam mutilados ou loucos, mas muitos nunca voltariam a casa. Apenas um ano após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, os monárquicos voltavam à carga e, por um apenas um mês, Portugal conheceria a Monarquia do Norte. Poucos anos depois, em 1926, surge um novo golpe militar feito a partir de Braga, o 28 de Maio. Nos anos finais do Estado Novo vemos novamente vimaranenses na guerra, a Guerra Colonial. Para por fim ao Estado Novo, vemos também vimaranenses a juntarem-se aos Capitães de Abril. Recentemente, sabemos terem estado vimaranenses no Afeganistão. Afinal, a guerra não acabou, apenas não está à nossa porta…
Como é natural, foi precisamente quando a guerra nos bateu à porta que se tornou mais sentida. O século XIX português foi fustigado por guerras que marcariam a sociedade de então e que, em certa medida e numa determinada fase, foram um dos principais factores para o atraso português.
Em Guimarães correu sangue pelas ruas. Amontoaram-se corpos pelos caminhos. Encheram-se hospitais de feridos e moribundos. Criaram-se heróis e vilãos, hoje quase todos esquecidos. Lutou-se pela independência. Lutou-se pelo que se acreditava e pelo que era imposto acreditar-se. Lutou-se pela sobrevivência. Viveu-se e morreu-se, com ou sem glória.
Com a Guerra Peninsular os vimaranenses uniram-se para lutar contra o invasor francês e ganharam. Poucos anos depois, dividiam-se na Guerra Civil que opôs liberais e absolutistas. Os liberais venceram, mas as suas ideias não seriam, numa primeira fase, firmemente implementadas. Houve uma mudança muito brusca e demasiada violência de parte a parte. Apenas 12 anos depois, o “povo” faria uma das poucas revoltas genuinamente populares que sucedeu em Portugal nos últimos 200 anos: a Maria da Fonte. A “Revolução do Minho”, como também ficou conhecida, seria uma revolta de origem conservadora (exigia-se um regresso ao passado e o clero teve uma grande preponderância) a que mais tarde se viriam a juntar os setembristas, tendo dado origem a uma nova guerra civil: a Patuleia. Finda a Patuleia, terminava meio século de guerra.
Foi esse meio século de guerra e a sua ligação mais ou menos directa com o território vimaranense que se procurou abordar neste conjunto de textos intitulados “Guimarães em Tempo de Guerra”. Foram tempos verdadeiramente difíceis, passados nas nossas ruas e protagonizados por um povo que, afinal, nem sempre foi de “brandos costumes”.
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