segunda-feira, 4 de julho de 2011

Guimarães em Tempo de Guerra VIII

Guimarães, 1832, auge da Guerra Civil. Nos arredores de Guimarães os homens de D. Miguel combatem as guerrilhas dos constitucionais. Em Guimarães vive-se com medo. Os boatos sobre a entrada das guerrilhas na Vila deixam em sobressalto a população. Qualquer ruído ou agitação fora do normal assusta os vimaranenses, que tudo associam à guerra. Na Rua de Santo António, as patadas “de uma besta” (provavelmente um cavalo) no chão de uma loja são confundidas com tiros, fazendo fugir soldados miguelistas.

Em Fafe as guerrilhas constitucionais aclamam D. Maria como Rainha, alarmando os miguelistas da região. Em Guimarães, no Toural, aparece um frade franciscano (o Mestre Braga), miguelista. Trás um tambor que toca para reunir a população, que instiga a pegar em armas a favor de D. Miguel. Quase ninguém lhe ligou e, em duas horas, foi forçado a deixar a Vila.

Aos hospitais de Guimarães chegam centenas soldados de D. Miguel feridos durante o Cerco do Porto. Amontoam-se nos hospitais que parecem não ter capacidade para tratar tanta gente. No Hospital da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, dois soldados doentes envolvem-se numa luta, acabando um deles morto à facada. Os hospitais de Guimarães estão lotados e algumas casas particulares transformam-se em hospitais.

No dia 24 de Janeiro de 1833, houve-se em Guimarães um barulho ensurdecedor: era uma esquadra de navios que estava na barra do Douro a responsável pelo “fogo de artilharia” que se ouvia em Guimarães.

De Guimarães continuavam a sair regularmente centenas de homens que iam combater os constitucionais nos arredores da Vila e no Porto. Para além dos homens saiam também dez carros de pão por dia para alimentar as tropas de D. Miguel e diversos géneros indispensáveis ao esforço de guerra miguelista. A população estava cansada da guerra, mas, segundo uma efeméride coeva, quando a 20 de Maio de 1833, entra inesperadamente em Guimarães D. Miguel “houve imensos repiques de sinos, foguetes no ar e cobertores nas janelas, havendo muitos vivas [e] à noite houve iluminação geral”. A festa seria curta, pois D. Miguel rapidamente deixaria Guimarães.

No Porto os combates entre miguelistas e constitucionais continuavam dia após dia e a Guimarães iam chegando cada vez mais feridos que, ao que parece, mal se encontravam restabelecidos estavam prontos para causar distúrbios.

De volta ao Toural e a Guimarães estava o Frade Mestre Braga, que, a 30 de Novembro de 1833, do púlpito da Igreja de São Pedro, insultava D. Pedro e os constitucionais tentando, mais uma vez, mobilizar mais vimaranenses para o exército de D. Miguel. Na verdade, no final do ano de 1833, a situação para os miguelistas vimaranenses começava a ser preocupante. De vários lados começavam a chegar notícias de terem sido avistadas “guerrilhas constitucionais” perto de Guimarães. Para combater estas guerrilhas eram enviadas as poucas patrulhas de Voluntários Realistas que raramente conseguiam sucessos.

A 23 de Março de 1834 o General Barão de Vila Pouca – até então partidário de D. Miguel – recebe ordem de prisão por se suspeitar que apoiava os constitucionais. Ao dirigir-se à Casa de Vila Pouca para deter o Barão, o meirinho encarregado da tarefa não o consegue capturar. O Barão tinha fugido e corria o boato que se tinha juntado à guerrilha constitucional de Vieira do Minho. O boato era verdadeiro, porque a 24 de Março de 1834 o Barão de Vila Pouca onde proclamava como rainha D. Maria II…

Nos finais de Março, em Santo Tirso, entrava uma parte do exército de D. Maria II, desbaratando os homens de D. Miguel que ainda lá se encontravam. Alguns soldados miguelistas puseram-se em fuga para Guimarães, onde procuraram refugio e assistência. Por esta altura os miguelistas vimaranenses tremiam e punham-se em fuga. Tinham razões para o fazer. A 27 de Março de 1834 entrava em Guimarães o General Barão do Pico do Celeiro, comandando uma divisão constitucional.

Guimarães tinha caído nas mãos dos constitucionais e os miguelistas estavam definitivamente derrotados. No dia 28 de Março era aclamada em Guimarães D. Maria II e é formada uma nova Câmara Municipal, com membros afectos à nova Rainha.

A Guerra Civil estava prestes a terminar, mas os anos que se seguiriam seriam muito turbulentos…

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