No ano de 1828, em Guimarães, o medo estava instalado no seio dos apoiantes do liberalismo. O Juiz de Fora, Damião Pereira da Silva Sousa e Menezes, tinha iniciado um “Auto de Devassa” onde foi dada ordem de prisão e de apreensão de bens a mais de cem vimaranenses ligados à causa constitucional.
Pelas ruas de Guimarães desfilavam, por esta altura, levas de presos constitucionais em direcção às diversas cadeias miguelistas. Eram, por regra, insultados pela população e iam algemados, em fila e atados com cordas, para a humilhação ser maior.
Muitos daqueles que tinham fugido depois da revolta falhada de 16 de Maio de 1828 tentavam agora refugiar-se no interior do país e até nas grandes cidades, tentando passar desapercebidos. Assim aconteceu a José de Sousa Bandeira, proprietário do incendiário jornal constitucional “Azemel Vimaranense”. Bandeira, que se encontrava escondido no Porto, foi capturado e condenado à morte, tendo sido a sua pena comutada em degredo. O antigo Capitão de Milícias de Guimarães, Inácio Moniz Coelho, viria a ter igual sorte. Refugiado na sua quinta em Basto (Casa da Veiga), seria capturado e sentenciado à forca, devendo a sua cabeça, logo após o enforcamento, ser cortada e colocada num poste na praça do Toural. A sua pena também seria comutada em degredo perpétuo para Inhambane (e para ali foi, tendo regressado a Guimarães em 1837).
As perseguições e prisões não faziam distinções de classe social ou de género, como se pode ver pelos casos acima referidos. Exemplo disso foi o sucedido com uma mulher, Francisca Teresa, que se atreveu, em pleno Toural, a proferir expressões “sediciosas e anárquicas” contra D. Miguel. Foi capturada e condenada a cinco anos de degredo para Cabo Verde.
Nas ruas, o clima era de insegurança para os poucos constitucionais que ainda estavam na cidade. A 14 de Setembro de 1829, foram espancados diversos constitucionais no Toural e noutras partes da Vila. Entre eles estavam o Bacharel José Ferreira Alves Costa e o também Bacharel e Cavaleiro da Ordem de Cristo Henrique Navarro de Andrade. A fama de se ser apoiante do “sistema constitucional” era suficiente para se ser vítima das mais diversas violências. Durante este período não foram raras as vezes em que se encontraram mortos nas ruas, vítimas de espancamentos ou assassinados das mais variadas formas, recaindo as suspeitas sobre os apoiantes de D. Miguel. Contudo sabe-se que, nesta época, a política foi usada como pretexto para acertar contas antigas, havendo dúvidas sobre os verdadeiros motivos que levaram a estas mortes. Se as ruas não eram um lugar seguro para os constitucionais, as suas próprias casas também não o eram. Entre 1829 e 1830, foram efectuadas buscas em diversas casas de constitucionais vimaranenses, com o intuito de prender aqueles que estavam fugidos à justiça. Os relatos de que temos conhecimento demonstram que essas buscas eram, por regra, infrutíferas. A explicação passará, certamente, pelo facto de as próprias casas em que os constitucionais residiam, sendo um local óbvio para efectuar uma busca, não serem mais do que uma solução de último recurso. Por outro lado, nas aldeias mais remotas do termo de Guimarães começavam a entrar em acção pequenas guerrilhas de constitucionais que, muito provavelmente, eram constituídas por aqueles a quem tinha sido dada ordem de prisão e que tinham saído de Guimarães. Nesta fase, as acções destas guerrilhas limitavam-se a causar pequenos distúrbios ou a tentar causar algumas baixas nos “Batalhões de Voluntários Realistas” (afectos a D. Miguel) que faziam o “policiamento” do termo de Guimarães, tentando capturar presos fugidos, ou constitucionais “desaparecidos”. Um exemplo caricato do papel destas guerrilhas. datado de 16 de Março de 1830, chega-nos através de um contemporâneo já mencionado nestes textos (o Cónego Pereira Lopes Lima) e diz-nos que “na ponte de Bouças, perto de Fafe, apareceu uma partida de constitucionais fazendo com que todos os passageiros dessem vivas ao sr. D. Pedro”. O episódio desta “aclamação” de D. Pedro em Bouças mostra a irrelevância de muitos dos actos destas guerrilhas (a região era, de facto dominada pelo Exército de D. Miguel), mas também demonstra uma certa capacidade de resistência e vontade de batalhar que, num futuro próximo, viria a ter algum impacto a nível local.
Se nos arredores de Guimarães as guerrilhas causavam alguns distúrbios e davam guarida aos constitucionais fugidos, na vila de Guimarães continuavam a desfilar pelas principais praças e ruas dezenas de presos por opiniões políticas, que iam sendo transferidos para as mais variadas prisões do país.
As diversas prisões efectuadas durante este período, não conseguiram solucionar um problema que dividia profundamente a sociedade portuguesa de então. As rivalidades políticas estavam em todo o lado: nas ruas, na Igreja e dentro das próprias famílias que, não raras vezes, alimentavam no seu seio profundos antagonismos políticos.
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