segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Taipas (parte II) - Sociabilidade nas Taipas termais



Festividade junto ao Hotel Villas (Colecção Particular)
Com a abertura das termas a verificar-se por regra durante o mês de Maio, a afluência visitantes nas Taipas aumentava. Às Taipas afluíam pessoas de todo o país e de todas as classes sociais. Contudo, pelas noticias que nos chegam, é de notar uma predominância de pessoas oriundas de Guimarães e de Braga, que ali “veraneavam” para uso de banhos mas que, em muitos casos, também teriam propriedades nas Taipas e nas freguesias limítrofes. Este fluxo de pessoas que invadia as Taipas em época de banhos necessitava de locais onde se instalar. Para além de diversas quintas e casas particulares que os banhistas possuíam na zona, existiam alguns particulares que alugavam quartos a banhistas e, desde cedo, surgiram hotéis que respondiam às solicitações dos veraneantes. A saber: o Hotel Villas (actual Pensão Vilas – existia desde a década de 70 do século XIX), o Hotel Estrella do Norte (na estrada Guimarães-Braga; fundado cerca de 1865; dispunha café com sala de bilhar), o Grande Hotel das Taipas (já existia em 1920; funcionava no actual edifício da Caixa Geral de Depósitos das Taipas), o Grande Hotel Braga (na década de 1920 estava em funcionamento)  e o Hotel das Termas (o estabelecimento mais importante das Taipas[1]).  Com um grande afluxo de banhistas nas Taipas entre Maio e Outubro, tornava-se necessário manter ocupadas pessoas que, muito embora procurassem nas Taipas sossego e tranquilidade, não dispensavam alguns dos entretenimentos de que usufruíam habitualmente.
Uma das primeiras notícias que nos chega sobre esta matéria data de 1857 e refere-se a um baile dado numa das principais casas das Taipas. Por ser de especial interesse descrever com algum detalhe o acontecimento em questão segue a transcrição: “Houve no dia nove nas Caldas de Santo António das Taipas um baile, que não deixou de ser interessante não só pela rapidez com que foi posto em execução mas também pelo seu bom resultado. Este baile foi promovido pelos jovens cavalheiros que se acham a banhos, desejando ter alguns momentos  de gozo, se reuniram no dia 8 de tarde, nomeando uma direcção composta dos seguintes Ilmos. Srs. Dr. Bernardino de Basto, Luís Pereira da Silva de Braga, Bernardino Borges da Silva Júnior do Porto, Francisco Ribeiro Martins da Costa de Guimarães e o Sr. Guimarães das mesmas Caldas, os quais não pouparam sacrifícios no desempenho de seus trabalhos.
Logo de seguida se passou a uma subscrição (...) e depois à escolha e arranjos da casa onde deveria ter lugar este improvisado divertimento.
Foi (...) escolhida a casa onde reside o Ilmo. Gaspar Ribeiro Gomes de Abreu (...).  Eram 8 horas da noite do dia 9, já tudo se achava pronto na melhor ordem (...). Às 9 e meia já esta sociedade era luzida e brilhante, achando-se presentes 30 senhoras cheias de atractivos e encantos e 45 a 50 cavalheiros das cidades do Porto, Braga e Guimarães e de outras terras das províncias do Minho e Trás-os-Montes, entre os quais se contava e distinguia o exmo. Visconde de Condeixa e a sua família. 
Foi então que começaram as primeiras quadrilhas e valsas que, quase sem interrupção duraram até às 3 horas da madrugada. Este baile foi muito bem servido e até, pode dizer-se, com profusão. À vista disto julgamos ser supérfluo tecer elogios tanto à ilustre direcção como ao Sr. Gaspar Ribeiro e e sua família, não podemos contudo deixar de admirar e mencionar o regime  e boa ordem com que os trabalhos foram dirigidos para se conseguir nas Caldas de Santo António das Taipas uma noite de verdadeiro prazer.”[2]
Os bailes e entretimentos similares foram, muito provavelmente, o modo mais frequente de entretenimento e sociabilidade dos banhistas ao longo do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX. Alguns estabelecimentos e casas particulares promoviam este tipo de divertimentos regularmente. Assim acontecia no Hotel Villas e no Hotel Estrella do Norte, na  casa de João Machado em Sande, no Club Luís de Barros[3], na Assembleia (dirigida pelo Sr. Matos)[4] e no palacete dos Condes de Vila Pouca nas Taipas.  Este último merece destaque não só pela elegância que caracterizava os seus eventos[5], mas também pelo facto de um dos filhos dos Condes de Vila Pouca, Gaspar Teixeira de Magalhães e Lacerda ter sido o primeiro Deputado no pais a apresentar um Projecto de Lei com vista a “reconstruir e melhorar os banhos termais[6]. O jogo, ainda que não raras vezes ilegal, marcava também presença em vários destes encontros e na vida da localidade e, muito embora fosse uma das mais comuns formas de entretenimento, era também uma enorme fonte de problemas e preocupações[7].
Mas, para alem destes bailes mais selectos e, por regra, em espaços fechados, existiam outras formas de diversão. Algumas que a localidade oferecia aos banhistas, como acontecia com a romaria de Santo António que nos finais do século XIX juntava nas Taipas milhares de pessoas[8] e outras que os banhistas proporcionavam aos residentes nas Taipas ou a outros banhistas, como acontecia nas excursões organizadas à Citânia de Briteiros[9] ou com os bailes ao ar livre que os banhistas organizavam[10].



[1]Jornal das Taipas” de 20.11.1921 – “Hotel das Termas - Edificado segundo as leis do turismo com a aprovação do governo. Recomendado pela «sociedade de propaganda de Portugal». Instalaçoes modernas, cnfortaveis e luxuosas, reunindo todas as condições de higiene e comodidade para os seus hospedes. Magníficos salões para jogos e reuniões; parque para diversões e passeios; iluminações eléctricas; garage; ténis = Excelente tratamento com ou sem dieta; regimens alimentares”

[2] “Tesoura de Guimarães” de 11.09.1857
[3]O Vimaranense” de 10.08.1899 – “(…) – Na semana passada realizou-se um sarau no Club Luís de Barros que correu muito animado, tamando parte os seguintes cavalheiros : Lino do Nascimento do Porto, Moreira de Aveiro, Avelino Mata de Vila do Conde, D. Carlota Guimarães do Porto, Crespo Guimarães e António Maia das Taipas.”
[4]  Castelo Branco, Camilo, Memórias do Cárcere, Lisboa, Parceria A.M. Pereira, 1966.
[5]Imparcial” de 24.07.1877– “A exma. Condessa de Vila Pouca, senhora de inexcedíveis qualidades morais, comemorou no dia 16 as suas 35 primaveras.
Os srns. Condes deram nessa tarde no seu palacete das Caldas das Taipas um lauto jantar de 28 talheres, a que assistiram varias senhoras e cavalheiros, os quais, como é de costume, saíram penhoradíssimos pela maneira como foram recebidos e tratados pelos nobres fidalgos.”
[6] “Diário do Governo” de 26.07.1861
[7] “ Religião e Pátria” 17.09.1864
[8]Jornal de Guimarães” de 22.07.1876 – “Santo António das Taipas – No domingo último festejou-se nas Caldas das Taipas a imagem deste santo que se venera numa capela erecta naquele local.
Como é de costume, esta festividade fez-se com toda a pompa e magnificência, concorrendo milhares de pessoas das aldeias próximas e desta cidade.
De manhã houve festa a musica vocal e einstrumental, seguindo-se a procissão na qual as imagens do taumaturgo português e da Virgem, acompanhadas de figuras alegóricas, todas promorsamente vestidas.
Fichava o préstito a filarmónica de Sande e uma força do regimento de infantaria 3.
Á noite houve arraial que também foi muito concorrido tocando por essa ocasião a mesma filarmónica escolhidas peças de música. Durante o arraial queimou-se um vistoso fogo de artificio.”
[9]O Formigueiro” de 23.07.1882 – “Taipas – (…) ontem foram daqui vários cavalheiros e damas em digressão até à Citânia, distrair-se, gozar o acidentado do terreno. Organizaram uma comitiva de vinte e tantas pessoas e montaram todas a cavalo (…).”
[10]Eco Popular” de 07.07.1879 – “Por iniciativa de algumas damas e cavalheiros que estão a banhos nas caldas das Taipas houve nesta bonita localidade no sábado último um baile campestre.
Reinou sempre o maior entusiasmo apresentando-se algumas damas e cavalheiros com vistosos trajes e lavradores das cercanias desta cidade. A iluminação, que nos dizem fora dirigida por o sr. Manuel da Costa, filho do sr. Francisco da Costa e Silva, esteve lindíssima, apresentando um efeito brilhante.”

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