Festividade junto ao Hotel Villas (Colecção Particular) |
Com a abertura das termas a verificar-se por regra durante o
mês de Maio, a afluência visitantes nas Taipas aumentava. Às Taipas afluíam
pessoas de todo o país e de todas as classes sociais. Contudo, pelas noticias
que nos chegam, é de notar uma predominância de pessoas oriundas de Guimarães e
de Braga, que ali “veraneavam” para
uso de banhos mas que, em muitos casos, também teriam propriedades nas Taipas e
nas freguesias limítrofes. Este fluxo de pessoas que invadia as Taipas em época
de banhos necessitava de locais onde se instalar. Para além de diversas quintas
e casas particulares que os banhistas possuíam na zona, existiam alguns
particulares que alugavam quartos a banhistas e, desde cedo, surgiram hotéis
que respondiam às solicitações dos veraneantes. A saber: o Hotel Villas (actual
Pensão Vilas – existia desde a década de 70 do século XIX), o Hotel Estrella do
Norte (na estrada Guimarães-Braga; fundado cerca de 1865; dispunha café com
sala de bilhar), o Grande Hotel das Taipas (já existia em 1920; funcionava no
actual edifício da Caixa Geral de Depósitos das Taipas), o Grande Hotel Braga
(na década de 1920 estava em funcionamento)
e o Hotel das Termas (o estabelecimento mais importante das Taipas[1]). Com um grande afluxo de banhistas nas Taipas
entre Maio e Outubro, tornava-se necessário manter ocupadas pessoas que, muito
embora procurassem nas Taipas sossego e tranquilidade, não dispensavam alguns
dos entretenimentos de que usufruíam habitualmente.
Uma das primeiras notícias que nos chega sobre esta matéria
data de 1857 e refere-se a um baile dado numa das principais casas das Taipas.
Por ser de especial interesse descrever com algum detalhe o acontecimento em
questão segue a transcrição: “Houve no dia
nove nas Caldas de Santo António das
Taipas um baile, que não deixou de ser interessante não só pela rapidez com que
foi posto em execução mas também pelo seu bom resultado. Este baile foi
promovido pelos jovens cavalheiros que se acham a banhos, desejando ter alguns
momentos de gozo, se reuniram no dia 8
de tarde, nomeando uma direcção composta dos seguintes Ilmos. Srs. Dr.
Bernardino de Basto, Luís Pereira da Silva de Braga, Bernardino Borges da Silva
Júnior do Porto, Francisco Ribeiro Martins da Costa de Guimarães e o Sr.
Guimarães das mesmas Caldas, os quais não pouparam sacrifícios no desempenho de
seus trabalhos.
Logo de seguida se passou a uma
subscrição (...) e depois à escolha e arranjos da casa onde deveria ter lugar
este improvisado divertimento.
Foi (...) escolhida a casa onde
reside o Ilmo. Gaspar Ribeiro Gomes de Abreu (...). Eram 8 horas da noite do dia 9, já tudo se
achava pronto na melhor ordem (...). Às 9 e meia já esta sociedade era luzida e
brilhante, achando-se presentes 30 senhoras cheias de atractivos e encantos e
45 a 50 cavalheiros das cidades do Porto, Braga e Guimarães e de outras terras
das províncias do Minho e Trás-os-Montes, entre os quais se contava e
distinguia o exmo. Visconde de Condeixa e a sua família.
Foi então que começaram as primeiras
quadrilhas e valsas que, quase sem interrupção duraram até às 3 horas da
madrugada. Este baile foi muito bem servido e até, pode dizer-se, com profusão.
À vista disto julgamos ser supérfluo tecer elogios tanto à ilustre direcção
como ao Sr. Gaspar Ribeiro e e sua família, não podemos contudo deixar de
admirar e mencionar o regime e boa ordem
com que os trabalhos foram dirigidos para se conseguir nas Caldas de Santo António
das Taipas uma noite de verdadeiro prazer.”[2]
Os bailes e entretimentos similares foram, muito
provavelmente, o modo mais frequente de entretenimento e sociabilidade dos
banhistas ao longo do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX.
Alguns estabelecimentos e casas particulares promoviam este tipo de
divertimentos regularmente. Assim acontecia no Hotel Villas e no Hotel Estrella
do Norte, na casa de João Machado em
Sande, no Club Luís de Barros[3], na Assembleia (dirigida pelo Sr. Matos)[4]
e no palacete dos Condes de Vila Pouca nas Taipas. Este último merece destaque não só pela
elegância que caracterizava os seus eventos[5],
mas também pelo facto de um dos filhos dos Condes de Vila Pouca, Gaspar
Teixeira de Magalhães e Lacerda ter sido o primeiro Deputado no pais a
apresentar um Projecto de Lei com vista a “reconstruir
e melhorar os banhos termais”[6].
O jogo, ainda que não raras vezes ilegal, marcava também presença em vários
destes encontros e na vida da localidade e, muito embora fosse uma das mais
comuns formas de entretenimento, era também uma enorme fonte de problemas e
preocupações[7].
Mas, para alem destes bailes mais selectos e, por regra, em
espaços fechados, existiam outras formas de diversão. Algumas que a localidade
oferecia aos banhistas, como acontecia com a romaria de Santo António que nos
finais do século XIX juntava nas Taipas milhares de pessoas[8]
e outras que os banhistas proporcionavam aos residentes nas Taipas ou a outros
banhistas, como acontecia nas excursões organizadas à Citânia de Briteiros[9]
ou com os bailes ao ar livre que os banhistas organizavam[10].
[1] “Jornal das Taipas” de 20.11.1921 – “Hotel das Termas - Edificado segundo as
leis do turismo com a aprovação do governo. Recomendado pela «sociedade de
propaganda de Portugal». Instalaçoes modernas, cnfortaveis e luxuosas, reunindo
todas as condições de higiene e comodidade para os seus hospedes. Magníficos
salões para jogos e reuniões; parque para diversões e passeios; iluminações
eléctricas; garage; ténis = Excelente tratamento com ou sem dieta; regimens
alimentares”
[2] “Tesoura
de Guimarães” de 11.09.1857
[3]
“O Vimaranense” de 10.08.1899
– “(…) – Na semana passada realizou-se um
sarau no Club Luís de Barros que correu muito animado, tamando parte os
seguintes cavalheiros : Lino do Nascimento do Porto, Moreira de Aveiro, Avelino
Mata de Vila do Conde, D. Carlota Guimarães do Porto, Crespo Guimarães e
António Maia das Taipas.”
[4] Castelo Branco, Camilo, Memórias do Cárcere, Lisboa, Parceria A.M. Pereira, 1966.
[5]
“Imparcial” de
24.07.1877– “A exma. Condessa de Vila
Pouca, senhora de inexcedíveis qualidades morais, comemorou no dia 16 as suas 35 primaveras.
Os srns. Condes deram nessa
tarde no seu palacete das Caldas das Taipas um lauto jantar de 28 talheres, a
que assistiram varias senhoras e cavalheiros, os quais, como é de costume,
saíram penhoradíssimos pela maneira como foram recebidos e tratados pelos
nobres fidalgos.”
[6] “Diário do
Governo” de 26.07.1861
[7] “ Religião
e Pátria” 17.09.1864
[8]
“Jornal de Guimarães”
de 22.07.1876 – “Santo António das Taipas
– No domingo último festejou-se nas Caldas das Taipas a imagem deste santo que se venera numa capela erecta naquele
local.
Como é de costume, esta
festividade fez-se com toda a pompa e magnificência, concorrendo milhares de
pessoas das aldeias próximas e desta cidade.
De manhã houve festa a
musica vocal e einstrumental, seguindo-se a procissão na qual as imagens do
taumaturgo português e da Virgem, acompanhadas de figuras alegóricas, todas
promorsamente vestidas.
Fichava o préstito a
filarmónica de Sande e uma força do regimento de infantaria 3.
Á noite houve arraial que
também foi muito concorrido tocando por essa ocasião a mesma filarmónica
escolhidas peças de música. Durante o arraial queimou-se um vistoso fogo de
artificio.”
[9]
“O Formigueiro” de
23.07.1882 – “Taipas – (…) ontem foram
daqui vários cavalheiros e damas em digressão até à Citânia, distrair-se, gozar
o acidentado do terreno. Organizaram uma comitiva de vinte e tantas pessoas e
montaram todas a cavalo (…).”
[10]
“Eco Popular” de
07.07.1879 – “Por iniciativa de algumas
damas e cavalheiros que estão a banhos nas caldas das Taipas houve nesta bonita
localidade no sábado último um baile campestre.
Reinou sempre o maior
entusiasmo apresentando-se algumas damas e cavalheiros com vistosos trajes e
lavradores das cercanias desta cidade. A iluminação, que nos dizem fora
dirigida por o sr. Manuel da Costa, filho do sr. Francisco da Costa e Silva,
esteve lindíssima, apresentando um efeito brilhante.”
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