Camilo Castelo Branco |
Um dos primeiros escritores, se assim lhe podemos chamar, a
fazer referência às Taipas foi Frei Cristóvão dos Reis que em 1779 faria a
apologia das águas termais das Caldas das Taipas. Outros se seguiram, fazendo o
elogio às águas termais ou descrevendo em breves palavras a localidade, como
foi o caso de William Graham durante a Guerra Peninsular (o texto foi publicado em 1820)[1].
Mas se falarmos de escritores que realmente frequentaram as
Taipas enquanto banhistas a primazia recairá em Camilo Castelo Branco. Num
episodio bem conhecido, narrado nas suas “Memórias do Cárcere”, Camilo conta
como esteve fugido à justiça nas Taipas, onde, apesar de ser procurado pelas
autoridades, não se coibiu de frequentar a Assembleia local. Nessa altura alojou-se numa casa perto
do Hotel Villas (já no século XX Ferreira de Castro sugeriu a colocação de uma
placa alusiva à estadia de Camilo Castelo Branco nas Taipas, tal ideia nunca
chegou a concretizar-se e, anos mais tarde, a casa terá sido demolida ou
descaracterizada). Pouco tempo depois Camilo voltaria às Taipas, embora
estivesse alojado na Casa da Ponte em Briteiros (a convite de Francisco Martins
Sarmento). Mais tarde, e já sem problemas com a justiça, regressaria de novo às
Taipas, como testemunham algumas cartas escritas nas décadas de setenta e
oitenta do século XIX. Também nos seus romances Camilo usou as Taipas e as suas
vizinhanças como elementos da narrativa. Com referências ao lugar das Gaias em
São Martinho de Sande, às “saudosas
carvalheiras de Santo António das Taipas” ou falando apenas das pescarias
que ali fazia nas margens do Ave, Camilo Castelo Branco mostrou ser um grande
conhecedor das Taipas, terra que frequentava regularmente e onde fez bons
amigos. Camilo fez referência às Taipas em muitos dos seus livros como por
exemplo, “Memórias do Cárcere”, “Novelas do Minho”, “Doze Casamentos Felizes”, “Amor
de Salvação”, “Duas Horas de Leitura”,
entre outros.
Ainda no século XIX, as Taipas são visitadas por Ramalho
Ortigão, outro nome maior da literatura portuguesa. No seu trabalho “Banhos de Caldas e águas minerais” o
escritor descreve a paisagem, o cenário rural envolvente, as propriedades das
águas e, tal como Camilo, realça a beleza das “largas copas de magníficos carvalhos” que pontificam no centro da
povoação. Este escritor classificaria as Taipas como uma das melhores estâncias
termais do país.
Também no século XIX (entre 1885 e 1886) as Taipas
conheceriam a visita de José Augusto Vieira, autor da obra “Minho Pittoresco”. Neste livro podemos
encontrar uma descrição das Taipas e dos seus banhos onde, mais uma vez, é
destacada a beleza da paisagem envolvente e a tranquilidade que a localidade
oferecia. É também no “Minho Pittoresco”
que podemos encontrar algumas das primeiras imagens captadas das Taipas e ali
reproduzidas como gravuras.
No século XX a grande figura do universo literário que
marcaria as Taipas de então foi, sem margem para dúvidas, Ferreira de Castro. O
autor de “A Selva” era uma visita habitual do Hotel das Termas das Taipas,
onde passava grandes temporadas. Simpatizava com as Taipas onde, segundo
palavras do próprio “o Ave de dia e a lua
de noite falam muito comigo”. Interessou-se pela vida local tendo indagado
sobre a estadia de Camilo nas Taipas e, como já anteriormente foi referido,
sugeriu que na casa onde Camilo esteve refugiado fosse colocada a seguinte
inscrição: “Nesta casa viveu escondido por uma questão de amor o grande
romancista Camilo Castelo Branco”. Homem afável e humilde granjeou a simpatia
dos taipenses que em sua homenagem encomendaram ao escultor António Duarte um
busto do escritor que foi colocado onde hoje se encontra em 1971. Ferreira de
Castro esteve presente na homenagem mas o seu feitio humilde fez com que
deixasse de frequentar as termas das Taipas após a colocação do seu busto numa
das principais artérias daquela vila.
Muitos outros escritores e artistas devem ter frequentado as
termas das Taipas nos finais do século XIX e nas primeiras décadas do século
XX, altura em que as termas taipenses conheceram o seu apogeu. A afirmação não
é gratuita. Para esta investigação foi encontrada em correspondência particular
um exemplo de relevo, mas, uma análise mais profunda de correspondência e de
espólios particulares traria certamente mais novidades. Através de três bilhetes postais enviados das Caldas das
Taipas ficamos a saber que o grande pintor Amadeu de Sousa Cardoso esteve nas Taipas pouco antes do seu
prematuro falecimento. Sousa Cardoso esteve nas Taipas entre Julho e Agosto de
1918, possivelmente já afectado pela “gripe espanhola” que nesse ano matou
milhares de portugueses. Nos postais, dirigidos a sua mulher Lucie Panchette de
Sousa Cardoso, afirmava estar a fazer dois tratamentos por dia nas termas.
Falava também na vontade de ir para Espinho, onde se encontrava a sua família.
Não sabemos por quanto tempo permaneceu Amadeu de Sousa Cardoso nas Taipas.
Sabemos apenas que, de facto, poucos meses após ter estado nas Taipas foi para
Espinho, onde viria a falecer no dia 18 de Outubro do mesmo ano (1918) com
apenas 31 anos.
A inegável qualidade das águas termais taipenses, bem como a
paisagem que envolvia o complexo termal, fez das Taipas um destino de
eleição para quem procurava tratatamento ou descanso. Foi assim entre a segunda
metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX.
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