segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Taipas (parte III) - Sociabilidade nas Taipas termais


Levada em S. Cláudio do Barco (nas imediações das Taipas).
Um dos locais escolhidos para a pesca pelos veraneantes.
Foto do início do século XX (Fonte: Col. Particular)

Para além dos bailes e festividades já referidos, existiam, ainda, outras formas de distracção e sociabilidade nas Taipas e nas suas imediações. As actividades ao ar livre, como por exemplo a pesca e a caça, ocupavam algum do tempo livre dos banhistas que, sem se afastarem em demasia da estância termal, podiam, em pouco tempo, chegar às margens do Ave para a pesca, ou a pequenos montes ou campos onde a caça fosse abundante.  Mas uma das mais espectaculares actividades ao ar livre ocorridas nas Taipas nos finais do século XIX foi uma corrida de cavalos que juntou naquela localidade milhares de pessoas. Um jornal da época noticiava desta forma o evento: “Realizaram-se ontem como se havia anunciado as corridas de cavalos promovidas por subscrição entre alguns cavalheiros desta cidade, do Porto e de Braga. O local escolhido para esta diversão foi o monte denominado da Ribeira que fica a pequena distância das Caldas das Taipas. Este sítio é realmente pitoresco, assaz espaçoso e cremos que concentra excelentes condições para um bom hipódromo.
Enquanto, porém, este se não construir é forçoso desculpar muitas e grandes irregularidades que ontem se notaram, e que só poderão desaparecer quando o terreno for única e exclusivamente preparado para este fim. (…)
As corridas começaram às 4h30 da tarde, tendo lugar primeiramente a corrida para cavalos montados por amadores em que era disputado um brinde oferecido pelas damas vimaranenses e que consistia num objecto de arte. Ganhou este prémio o cavalo em que montava o Sr. Visconde de Lindoso (Gonçalo). Na segunda corrida de trote em três provas, para cavalos e eguas peninsulares montados por amadores, venceu o cavalo montado pelo sr. Cardoso do Porto. O prémio era um objecto de arte oferecido pelos banhistas das Taipas.
Na terceira ganhou o prémio o cavalo em que montava o nosso amigo António Pereira Leite da Casa da Freiria. O prémio consistia num objecto de arte oferecido pelas damas bracarensnes.
Na quarta corrida alcançou o prémio oferecido pelos banhistas de Vizela o Dragão, pertencente ao nosso amigo e conterrâneo sr. José Martins de Queiroz. Esta corrida foi, sem dúvida, a eu maior entusiasmo causou pela perfeição e inexcedível mestria com que foi executada. Por momentos cavaleiro e cavalo pareceram-nos impelidos por um poder ignoto que tão depressa no-los mostrava como no-los escondia!(…) Na quinta corrida – de cavalos e éguas nacionais – para lavradores obteve o prémio de 18000reis  a égua do sr. Manuel Martins da freguesia de Santa Eufémia de Prazins (…). Na sexta e última corrida de cavalos também montados por lavradores ganhou o prémio de 120 reis  o cavalo que montava o sr. José António Dias do Porto.
Assim terminou este agradável passatempo ao qual concorreram cerca de 5000 pessoas entre as quais se notavam as distintas beldades desta terra e muitas famílias do Porto e de Braga. (…). Assistiram os exmos. Srs. Governador Civil do Distrito e Administrador do Concelho.”[1]

É também de referir que, em grande parte destes eventos, a música era um elemento sempre presente. Se nos bailes a música era obrigatória, noutros eventos ao ar livre também surgia como forma de abrilhantar a ocasião. Os dados recolhidos fazem-nos crer que seria a Filarmónica de Sande a que teria mais preponderância em eventos dentro de portas e ao ar livre. Esta Filarmónica acompanhava os diversos actos religiosos mas também proporcionou espectáculos ao ar livre destinados aos banhistas e actuou também em festas particulares.

Este tipo de divertimentos e de actividades destinadas ao entretenimento dos banhistas foram recorrentes nas Taipas desde a segunda metade do século XIX até aos anos trinta do século XX, isto a julgar pelos dados recolhidos nos jornais da época. Nos final dos anos trinta, um cronista do “Comércio de Guimarães” lamentava a decadência das termas das Taipas. No seu artigo, intitulado “Como eu vi as Taipas”, dizia que ia “diminuindo de ano para ano a frequência das Taipas na época termal”  e perguntava a que se deveria  “atribuir a falta de frequência que de ano para ano se vai acentuando de maneira tão assustadora e sem duvida a caminho de uma morte certa e fatal para a sua vida?[2]. Apesar dos apelos e das questões colocadas na imprensa local a situação das termas das Taipas não iria conhecer melhoramentos e nos anos cinquenta era dito na imprensa local “que o estabelecimento termal das Taipas precisa de obras urgentes e consideráveis”[3]. O período de glória das Taipas enquanto estância termal chegava, deste modo, ao fim.
Estes sinais de decadência foram afastando os banhistas e, consequentemente, as actividades de entretenimento e sociabilidade passaram a estar mais ligadas à Vila das Taipas do que a eventos organizados exclusivamente por banhistas. Durante este período houve contudo algumas excepções e algumas figuras de renome continuaram a “ir a banhos” às Taipas, mais pelos efeitos benéficos das suas águas do que pelo encanto (e pelo estado) do seu estabelecimento termal... Uma dessas figuras foi o escritor Ferreira de Castro que ali veraneou durante vários anos e que a Vila das Taipas homenageou com um busto. Foi o último dos grandes escritores a passar pelas Taipas.



[1] “Jornal de Guimarães” de 22.07.1876
[2] “Comércio de Guimarães” de 8.10.1937

[3]Comércio de Guimarães” de 26.08.1955 

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