"Acabado o Acto Académico (...) se passou outro teatro não menos divertido em que os olhos acharam um novo arsenal com abundante provimento de deleitáveis regalos para a vista. Era este teatro a mesma praça onde o brilhante das muitas mil luzes fazia um clarão tão grande que desmentia o tempo porque ninguém via a noite. Achava-se povoada de 6 para 7 mil pessoas porque não concorreram a ver tão lustroso espectáculo os moradores de toda a Vila mas os de muitas povoações da sua vizinhança, convidados pelo alegre ruído (...). Iluminaram-se inteiramente todas as cinco máquinas que adornavam a praça e pareciam outras tantas constelações, cujos nítidos fulgores influíam uma gostosa complacência a todos os circunstantes. Deu-se ordem para começarem a correr as fontes do generoso licor que ao mesmo tempo alenta e alegra quem dele faz bom uso. Mandou-se entregar ao Povo para repartir entre si aquele utilíssimo Bruto [um boi] que até então havia servido de símbolo da paz, sem que esta circunstância o desmentisse (...). E, como a grandeza se manifesta pelos desperdícios, se mandaram lançar das janelas do Palácio à plebe mais de dois mil pães e vários cestos de frutas e de doces. Novo género de divertimento foi também a sofreguidão com que muitos, ao mesmo tempo, queriam aparar o pão, alcançar o vinho e não ficar sem carne; porém em todo este alegre tumulto não se viu desordem (...) antes se ouvia repetir com cordial alvoroço muitas vezes: viva El-Rei, vivam as Magestades, vivam os Príncipes!(...).
Três horas que o não pareceram se gastaram neste aprazível divertimento, nunca imaginado das mais elevadas ideias dos antigos e tão fácil hoje aos engenhos modernos (...). Acabou-se [assim] a festividade deste dia de tanto crédito de Guimarães (...). FIM."
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