"Farei só uma breve memória do que vestiu nesse dia o autor da festa. Compunha-se esta de uma casaca escarlate primorosamente bordada de ouro e prata e relevada a bordadura com alcachofras de canotilhos; de uma vestia um estofo coalhado de ouro brilhante a que o moderno vocabulário chama glacê. A venera da Ordem de Cristo (...) de ouro guarnecida de preciosos diamantes; e da mesma matéria e guarnição eram a fivela, botão e presilha do chapéu, copo e guarda do espadim e fivelas dos sapatos.
Seguiu-se um sumptuoso banquete para o qual convidou 56 pessoas da principal Nobreza da Vila, Dignidades e Cónegos da Real Colegiada de N. Senhora de Oliveira, o Tesoureiro-Mor da Sé de Braga, os Prelados das Religiões e os Ministros da Justiça (...). Três vezes se cobriu a mesa e de cada uma com 36 pratos dos mais deliciosos, mais delicados e mais esquisitos. Nas duas primeiras foram servidos os convidados em prata; na terceira em porcelana do Japão e da China. Durou este gostoso divertimento até ao por do Sol.
Chegada a noite (se a houve nesse dia) passaram os hóspedes a um salão onde na parede principal, debaixo de um docel de brocado de ouro, se viam os retratos dos quatro príncipes casados (...). As paredes se guarneciam e ilustravam com 10 grandes e excelentes placas de prata e outras tantas serpentinas do mesmo metal, curiosamente lavradas; a dois e três lumes cada uma. Passavam de 150 as luzes com que iluminava esta a casa. Nela se achavam os Atletas da Academia Vimaranense, e na presença de mais de 300 pessoas (...) recitaram quatro Orações Panegíricas e muitas Poesias elegantes. Deu princípio a este acto académico, por uma elegante oração, o Secretário da mesma Academia, Amaro José de Passos, a quem o senhor de Abadim agradeceu este trabalho com um anel de diamantes e um livro histórico.
Fez o segundo panegírico o dr. Francisco Rebelo Leitão, corregedor da vila, a quem o senhor de Abadim manifestou o seu agradecimento com um relógio e o Epitome da História de Portugal.
Orou em terceiro lugar em língua latina correcta e elegantemente o dr. Manuel Lopes de Araújo, a quem o senhor de Abadim agradeceu com outro igual relógio e as primeiras Crónicas deste reino. Disse o quarto panegírico o mesmo Senhor de Abadim na língua castelhana, que apesar de estrangeira, nada ficou prejudicada na sua natural elegância; e foram seu prémio as vozes com que a fama começou deste dia a decorar para as repetir perpetuamente com plausíveis brados em grande crédito de Guimarães, sua Pátria, que se confederaram na sua pessoa com sua magnanimidade, a gentileza, a galhardia, o estudo, a discrição e o zelo na glória do seu Rei (...)."
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